Temos neste texto uma descrição desses dois modos de abordagem que vão revelar as intenções de cada envolvido no episódio, ou seja, o fariseu Simão, a mulher pecadora e Cristo Jesus. 

Tudo começa com Simão convidando Jesus para um banquete em sua casa. As casas dos judeus ricos tinham colunas que iam para o lado do pátio interior, por isso, naquele tempo, era costume os de fora rodearem esse lugar quando ocorriam banquetes para verem pessoas consideradas importantes e ouvir o que tinham a dizer. Uma vez que o local era aberto, esses observadores tinham acesso ao pátio do banquete e aos convidados, o que explica como a mulher chegou até Jesus. 

Ao entrar e se aproximar de Jesus ela faz algo inusitado, demonstrando que não estava ali por acaso, mas que o procurou para aquele momento. Lucas diz que quando ela soube que Jesus estava à mesa na casa do fariseu ela trouxe algo de muito valor, um vaso de alabastro com perfume. 

Os unguentos e perfumes que vinham embalados em garrafas de alabastro eram tão caros que, para não correr o risco de desperdício, eram usados de uma só vez, por isso essas garrafas eram seladas na boca e só abertas pela quebra do seu gargalo. Antes de ungir os pés de Jesus com o perfume a mulher molhou-os com suas lágrimas e enxugou-os com seus cabelos passando a beija-los. 

Diante dessa cena, Simão sentiu-se contrariado, pois o testemunho acerca de Jesus era de um grande Profeta, mas não era o que estava demonstrando, pelo contrário, o que se revelava ao fariseu era alguém com pouco discernimento profético ao se deixar ser tocado por uma mulher tão pecadora, portanto, a conclusão era que se tratava um impostor. 

Temos então um convite para uma reunião pública vindo de um fariseu pecador que tinha que aprender algo muito importante sobre si mesmo e um encontro inusitado de uma mulher pecadora que descobriu algo importante sobre o Cristo. 

Jesus revela tudo isso ao propor a parábola a Simão. 

A parábola não trata da quantidade de pecados que uma pessoa traz em sua conta, mas da gravidade disso no seu coração, portanto, ao olharmos para o texto, não devemos perguntar: Quantos pecados uma pessoa precisa cometer para ser considerada pecadora? Mas, sim, entender que tanto Simão quanto a mulher eram pecadores e como isso foi enfrentado pelos dois.

Os pecados da mulher eram do conhecimento de todos enquanto os de Simão eram ocultos, mas os dois eram flagrantes diante de Deus. Os pecados da mulher eram de comissão enquanto os de Simão eram de omissão, mas os dois estavam igualmente falidos diante de Deus. 

Simão precisava entender que convidar Jesus para sua mesa e se mostrar simpático a Sua missão não realizava o que Cristo veio efetuar no coração dos homens, portanto, o verdadeiro problema de Simão, foi não conseguir enxergar a si mesmo estando diante de Cristo, assim, na mesma medida em que foi fácil dizer: "ela é pecadora", foi impossível confessar: "eu sou pecador".

A mulher atendeu em fé ao convite à salvação feito por Jesus e descobriu um perdão que valeria todo o seu amor por Ele, pois o arrependimento ficou evidente no seu gesto. Sabia que havia sido verdadeiramente perdoada e isso se evidencia nas palavras de Jesus: "Os teus pecados estão perdoados" e, pela primeira vez em sua vida, teve paz com Deus. 

Podemos ter as melhores intenções frente ao Cristo Jesus e seu Evangelho, mas se o encontro não acontecer em meio a um arrependimento, que resultará em uma adoração íntegra e sincera, nunca nos sentiremos apaziguados com Deus. 

É Apenas no Evangelho que o tamanho do amor oferecido só revela a grandeza do perdão que foi cedido. 

Soli Deo Glória!