"Religião é toda a tentativa do homem buscar a Deus, por isso são muitas as religiões; Evangelho é Deus buscando o homem, por isso só existe um Evangelho".

Este texto é uma constatação bíblica desta verdade.

Quando um condenado era julgado e sentenciado à morte de cruz, uma excitação estranha tomava conta tanto dos soldados mais cruéis, quanto dos expectadores mais sádicos do lugar em questão, pois era um verdadeiro "show de horrores" a liturgia de tal sentença, de modo que a cruz passava logo a ser o anseio do réu, visto que a dor e a humilhação pareciam não ter fim.

Primeiro o condenado passava pelo ritual dos açoites que terminava em um total de trinta e nove deles, ou como era descrito, quarenta menos um, isto é, para não incorrer na "injustiça" de extrapolar os quarenta açoites, os soldados contavam trinta e nove, assim diminuíam o risco de, perdendo a conta, exagerar no castigo. 

Depois o réu era levado ao tribunal do julgamento e colocado no meio de quatro soldados para depois ser obrigado a carregar, nas costas e nos ombros esfolados pelos açoites, a sua própria cruz. Deveria, ele mesmo, conduzi-la ao lugar de sua crucificação, mas para que fosse mais humilhado, teria que fazê-lo pelo caminho mais longo que houvesse, assim, era levado a percorrer todas as ruas, caminhos ou atalhos que levassem ao lugar de sua morte.

Diante dele ia um soldado levando um anuncio com seu crime inscrito nele, isto como uma séria advertência para aquele que estivesse conjecturando um delito igual. Fizeram isso a Jesus que, segundo o apóstolo João, começou levando sua própria cruz (Jo. 19:17), mas que em algum momento não a pode carregar mais.

A região da Palestina era ocupada pelo Império Romano, portanto, qualquer cidadão judeu podia ser convocado, em qualquer momento, para servir ao império e isto em qualquer tipo de serviço.

Pois bem.

No caminho para o templo, a fim de observar a páscoa, vinha um judeu chamado Simão. Sua cidade é identificada como Cirene, que ficava a aproximadamente mil e duzentos quilômetros de Jerusalém. Portanto, este judeu era um peregrino que juntou economias por uma boa parte de sua vida apenas para festejar a Páscoa na cidade Santa.

Mas em certo momento se vê obrigado pela força de ocupação vigente a auxiliar um criminoso a levar seu instrumento de morte até o local dela.

Não fosse o registro importante de Marcos citado acima, nenhum sentido faria o nome de Simão constar nas escrituras.

Marcos lembra que este Simão é o pai de Alexandre e de Rufo, e não o faz com intenção de identificá-lo pelo nome de seus filhos, mas sim, com a intenção de que eles sejam bem conhecidos na comunidade para qual escreve pelo nome de seu pai. Sabe-se, quase que unanimemente, que Marcos escreveu seu Evangelho para a igreja de Roma, portanto, ao citar o nome dos dois filhos, a intenção era a de que ligassem seus nomes a alguém importante. Não obstante a isso, o apóstolo Paulo, ao escrever aos romanos, saúda Rufo e sua mãe no fim da epístola (Rom. 16-13).

Conclui-se então que na igreja romana, Rufo, filho de Simão, foi um cristão chamado de um dos escolhidos de Deus, com uma mãe que Paulo ama tanto que pode chamá-la sua mãe, portanto Simão não só se converteu, mas também instruiu a todos de Roma sobre a graça do evangelho incluindo a própria família.

Simão foi um homem religioso que sonhava com um encontro com Deus. Sonhou parte de sua vida com a viajem que significaria toda a sua busca por Deus em rituais e sacrifícios. Sonhou em realizar a ambição de sua vida, celebrar a Páscoa em Jerusalém.

Mas Deus o encontrou primeiro e deste encontro deu a ele o privilégio que jamais sonhara, ser incluído no sacrifício que da significado ao homem que é encontrado pela liturgia da cruz. 

Dentre todos os convocados a levar a sua cruz e seguir Jesus, Simão foi o único que ajudou o Salvador a levar a cruz de todos.

Foi a Jerusalém para satisfazer a sua religiosidade na esperança de encontrar Deus, mas terminou encontrado, na via dolorosa, pelo Salvador que carregava a sua cruz e que, para satisfazê-lo, ofereceu-a a ele.

É APENAS no EVANGELHO que encontramos com o Cristo e sua cruz que significará a nossa verdadeira religião.

Soli Deo Glória!

A Ira é proibida por Jesus, como o assassinato, pois muitas vezes matamos o próximo em nosso coração. Isso é claramente visto quando sabemos quais as manifestações da ira que nos levam ao juízo, ao sinédrio e ao inferno.

A ira que não sai do coração que nos encoleriza ou nos zanga contra o nosso irmão. Aqui a Ira não é aquela que passa rapidamente, mas a ira que é cultivada no coração, a de quem que se ira e seguirá se irando; a ira que não age, mas que cultiva desejos e intenções ocultas, que adoecem a alma; A Ira sem motivos claros e significativos.

A Ira, também, se manifesta como insulto. Que se dirige ao próximo como “raca”, que significa néscio. Quando alguém, assim se refere ao próximo, o está desprezando por sua ignorância e insensatez. É alguém muito orgulhoso que, em ira profunda, despreza o irmão. 

A manifestação da ira não deixa de passar pelo caminho da loucura do ser de quem se ira, e do que chama o irmão de louco. Chamar o irmão de louco é atacar a sua moral, é o desejo de manchar o seu nome.

Jesus disse que o antídoto da ira é a reconciliação. É um caminho difícil de percorrer, mas que cura a alma.

É um caminho árduo, pois começa no altar, no lugar de encontro com Deus. Jesus disse que só se estabelece comunhão com Deus se, antes, tivermos comunhão com o irmão.

É um caminho de humildade, pois deixar a oferta no altar e buscar reconciliação no momento da oferta é para os humildes que recebem a terra para viver a comunhão com o irmão.

É um caminho necessário, pois só depois da reconciliação é que se deve aproximar do altar para oferecer as ofertas. Jesus está dizendo que o caminho vertical tem que ser palmilhado na horizontal.

É um caminho urgente, pois Jesus disse que deve ser depressa, não se pode esperar. Quem quiser o usar o altar como lugar de devoção tem que se apressar na reconciliação com o irmão.

É um caminho que se faz enquanto estamos no caminho com o próximo. Este caminho impede o julgamento dos homens, do diabo e do Senhor.

Portanto, raca e louco será você, se não deixar a sua oferta no altar e depositá-la, como reconciliação, no altar do coração do seu irmão, para que o acesso ao altar do Senhor seja livre e verdadeiro.

Apenas no evangelho, que deixamos de ser néscios e loucos para viver o caminho proposto por Jesus.